domingo, 27 de junho de 2010

Memória: Um ano sem Michael Jackson

Um ano sem Michael Jackson, completo no último dia 25. E como se já não fosse suficiente a Copa do Mundo, Dunga e a seleção brasileira, as principais programações televisivas não poderiam deixar de, mais uma vez, entupir o telespectador com extensas e exaustivas exibições de reportagens, quadros temáticos e curiosidades sobre a vida polêmica e morte misteriosa do cantor norte-americano desde então.

Muda-se de canal, mas a programação continua a mesma: Michael Jackson, Neverland e bábláblá. Ninguém merece. Se continuar assim, teremos mesmo que acreditar que MJ é um santo e devemos então venerá-lo de fato, postando também oferendas aos pés de sua estátua de cera no museu de Madame Tussauds (pronuncia-se Tussô), tal é a sucessão de imagens e comentários sobre o “pobre” Michael. Ao invés de desgastar essa imagem, o homem é endeusado. Não vai demorar para surgir um milagre atribuído à estrela da música pop internacional.

Desde sua morte, o fenômeno Jackson se alastrou, desencadeando uma série de manifestações de fãs de carteirinha, que já o acompanhavam de longa data, e dos “neo-fãs”, aqueles que só surgiram a partir do dia 25 de junho de 2009, querendo parecer “cool”, querendo ibope mesmo. Programas de TV e vídeos da internet com adultos e crianças imitando Michael, completamente caracterizados, executando uma coreografia repetitiva, expressões de amor de pessoas de todas as idades, que se dizem fãs, comunidades criadas para expressar a idolatria ao cantor podem ser vistas facilmente. Basta ligar a TV, não importa o horário ou dar alguns cliques.

O lado ruim dessa estória toda é a constatação de que de todo esse circo armado mostra o tamanho desinteresse sobre temas que realmente merecem ser vistos e discutidos. O povo brasileiro já sofre de um problema gravíssimo de memória, possui uma preocupação muito limitada, muito individualizada, no que se refere, por exemplo, ao impacto de suas ações ou das as do próximo da vida. Tudo bem, está não é uma “qualidade” só do povo brasileiro, concordo, mas dessa maneira, sem estímulos, sem incitar a atenção do telespectador para algo que seja realmente importante, a coisa irá de mal a pior.

Enquanto a bola rola na África do Sul, a mídia fala de Michael, toneladas de litros de petróleo continuam vazando lá no Golfo do México, a saúde e a educação continuam precárias, pessoas estão desabrigadas e famintas, os mesmo ladrões vão provavelmente ser re-eleitos por você, os vagabundos vão continuar vendendo drogas perto de sua casa ou frequentando a escola dos seus filhos. Presos continuarão fazendo ligações de dentro de presídios, a violência continuará crescendo e o salário continuará diminuindo, os idosos tratados com desrespeito e descaso. Fica tudo do jeito que está, porque em time que está ganhando não se mexe, não é isso? E eu e você o que temos a ver com isso? Boa pergunta.

domingo, 20 de junho de 2010

O bebê indonésio sob o olhar do cego

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O processo pelo qual aprendemos é percebido e explicado de diferentes maneiras. Por exemplo, para o comportamentalismo (behaviorism para os íntimos), aprender é expressar um determinado comportamento a partir de um estímulo, uma motivação. Com efeito, podemos dizer, de maneira simples e objetiva, que a aprendizagem se dá, muitas vezes, por imitação, através de processos de atenção, retenção e reprodução de um comportamento, considerando o contexto social e cultural no qual o indivíduo está inserido.

Assim sendo, o mais sensato dos leitores há de concordar comigo que há nada de sobrenatural ou mágico no fato de alguém, seja criança, adulto ou velho, homem ou mulher, de qualquer nacionalidade, de qualquer seguimento ideológico, político ou religioso, aprender por meio do que se vê. Ou seja, reproduzindo um determinado comportamento. Especialmente as crianças. Se deixar, elas reproduzem tudo o que veem. Daí, costumamos dizer que elas aprenderam, certo? Quem nunca ouviu alguém dizer “Onde foi que você aprendeu isso?” ou “Com quem você está aprendendo essas coisas?”

Em uma primeira análise, os pais são os principais responsáveis por fornecer modelos de comportamentos aos filhos, não através de ordens ou conselhos, mas especialmente através de seus próprios hábitos. Para quem não tem o costume, eu sugiro que comecem assistir “Super Nanny”, exibido aos sábados à tarde no SBT. Vão entender melhor o que eu estou tentando dizer.

Na sequência, são responsáveis também todos os que têm contato com as crianças, sejam conhecidas ou desconhecidas, com quem trabalham ou não. Quando eu falo “todos”, me refiro a grupos sociais, comunidades, a sociedade. Nesse caso, eu, você e todo mundo.

Dessa maneira, é possível entender, por exemplo que cada comportamento, positivo ou negativo, observado num jovem é a reprodução de algo que ele viu e que lhe despertou interesse.

O caso absurdo do bebê indonésio de aproximadamente 2 anos de idade que chegava a fumar quarenta cigarros por dia não é diferente. Apesar de bizarro para a nossa sociedade, não existe nada de sobrenatural, como por exemplo, dizer que a criança estava possuída por demônios tal qual disse, há algumas semanas na TV, o pastor e fundador de uma igreja evangélica, cuja filial na Espanha foi aberta pela esposa de um jogador de futebol. O pastor e seu colega apresentador estavam boquiabertos, repetindo que aquilo era algo do demônio, dada a habilidade com que o bebê manipulava o cigarro com os dedos. Ora, me erre! Será que não passou pela cabeça do pastor – provavelmente não, por causa da “cegueira dogmática” que o acomete – ou de qualquer homem ou mulher sensatos que a criança apenas reproduzia o comportamento dos pais? Que a habilidade provavelmente era por causa de esmero do pai em querer ver a criança dominar este hábito?

Enfim, o que mais me preocupa são os comportamentos e atitudes que podem estar sendo criadas por formadores de opinião, sejam pastores ou apresentadores de programas de veiculação nacional ou local, políticos, pais, professores e que podem ser vistos e ouvidos em todos os lugares atualmente: no ciberespaço, nas escolas, igrejas ou templos ou até em casa pela TV. Os comportamentos e atitudes expressos tal qual o comentário dogmático e absurdo do pastor são assimiladas e reproduzidas automaticamente, por assim dizer, digeridas sem um mínimo de reflexão por muitas mentes desatentas ou por aquelas que insistem em não perceber a verdade, os blue pills.

Para refletir, assista ao vídeo:

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Desenhando no MSN

Desenhar é uma catarse. Confesso que produzia desenhos com muita frequência quando criança e adolescente. Na minha adolescência - Nossa! - era um atrás do outro, fosse em casa ou até na escola na hora do intervalo. Desenhar relaxa e diverte.
Agora, eu costumo desenhar também no Messenger (MSN) para me distrair e entreter meus interlocutores virtuais. Detalhe: estes foram coloridos para serem postados.

domingo, 6 de junho de 2010

Pastilha de menta “buena” e “hermosa”

Um bom vendedor precisa basicamente de duas coisas para ter sucesso: conhecimento e criatividade. Conhecer bem o produto/serviço que está oferecendo a ponto de transmitir confiança e segurança necessária para o cliente é um dos requisitos importantes nesta área. Também saber o que o cliente precisa de antemão e destacar os benefícios do produto/serviço oferecidos a ele, não focando no produto/serviço em si, mas dando ao cliente o que ele terá de vantagens com aquela aquisição. Por fim, saber como cativar o cliente, ser simpático e antencioso para promover um clima descontraído pode fazer toda a diferença. É nessa hora que entra a criatividade, são as estratégias de venda.

Muitas pessoas se destacam na arte de vender não só por sua visão de mercado, mas por suas estratégias diferenciadas. Por exemplo, como é que você acha que Sílvio Santos, o empresário de televisão, se transformou no “homem do báu da felicidade”. O apelido já diz tudo: o homem não vende carnês, eletrodomésticos ou um minuto de fama no complexo televisivo do SBT, ele vende “felicidade”. E isso todo mundo quer, mesmo que seja preciso investir algum dinheiro.

No filme “O Contador de Histórias” (2009), do diretor Luiz Villaça, há uma passagem que mostra a personagem Margherit e o menino Roberto, numa praça onde um aglomerado de gente assiste a um homem vendendo uma caneta que, segundo ele, é a que a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea. O homem fascina os dois personagens e os demais expectadores com o seu jeito inusitado de contar estórias para justificar a venda da “única” caneta que herdara de sua mãe que está doente. Margherit encantada com a estória decide comprar uma e, quando o homem se volta para pegar o troco, o menino vê que ele tem várias dessas canetas e tenta adverti-la quanto à possibilidade de ela estar sendo enganada. Margherit, então, diz a Roberto que fez a compra não porque o homem vendia a caneta, mas porque vendia a estória. Dessa maneira, o vendedor proporcionava aos transeuntes um momento de felicidade, preenchendo um pouco o vazio em suas vidas. Uma boa estratégia, não acha?

Alguns dos melhores vendedores fazem dos produtos ou serviços que oferecem uma espécie de brinde, por assim dizer. O que realmente se vende não são canetas, carnês, livros, perfumes ou doces, vende-se criatividade, uma maneira inovadora de convencer o cliente, uma imagem, fazendo-o se identificar com a “ideia” por trás do produto/serviço. Com efeito, é possível encontrar em todos os ramos vendedores e suas estratégias de venda nada convencionais.

Dificilmente há quem ainda não tenha pegado um “buzú” em Salvador que já não tenha se deparado com os inúmeros vendedores de balas e doces de toda sorte, formalizados ou não, pedintes e prestadores de serviços que aparecem nos coletivos diariamente.

Certa feita, surgiram no coletivo dois repentistas. Eram irmãos gêmeos, um tocava flauta. Inicialmente o flautista brindou os passageiros com “Jesus, Alegria dos Homens” de Johann Sebastian Bach, dentre outras composições, incluindo canções nordestinas. Quando foi a vez do repente, deram um show. Recitaram vários versos sobre vários temas. O coletivo não estava cheio, havia cadeiras vazias, mas todos aplaudiram. Todos. Até eu que não sou dado a essas “distrações” e contribuições em dinheiro, especialmente em coletivos, me rendi ao talento dos “filhos do sertão”, como se intitulavam. Afinal, me proporcianaram naquela viagem um bom momento de entretenimento. Venderam bem.

Por outro lado, há vendedores que erram na mão, exageram na dose ou simplesmente não têm jeito para a coisa mesmo. Alguns não têm noção de onde termina a criatividade e começa o ridículo.

O mais recente episódio, ocorreu na última sexta-feira. Eu estava num ônibus, lendo um livro cujas páginas tomavam toda a minha atenção. De repente, ouvi uma voz com um forte sotaque espanhól, anunciando umas pastilhas. Até aí, tudo bem. Continuei lendo o meu livro. Quando o homem começou a cantarolar “Besame mucho” destacando as tais pastilhas, minha concentração foi pro espaço. Dá uma olhada nessa figura: o vendedor gringo usava calça e sapatos pretos, uma camisa vermelha, um lenço também vermelho à la Bel Marques e tinha um cavanhaque pintado no rosto – o gringo era fake. O ponto alto desse espetáculo risível foi a versão do “rebolation” acompanhada por uma dancinha sem graça, com sotaque “portunhól” – misturado com baianês ainda por cima!

O refrão era assim.: “É de menta, tá, tá / É de menta... / É de menta, tá, tá / É de menta... Pastilha de menta ‘buena’ / Pastilha de menta ‘buena’, ‘buena’. / Pastilha de menta ‘buena’ / Pastilha de menta ‘buena’, ‘buena’.”

Como se já não bastasse, ele ainda completava: “Compre la pastilha! É muy buena, muy hermosa (“hermosa”??), buena para boca, muy buena para a garganta. Usted pode comprar para su hijo, su hija, para namorado, namorada. É muy buena, muy gostosa, muy hermosa (de novo?)...”

Esses vendedores e suas estratégias... Preciso dizer mais alguma coisa?

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O que aprendemos sobre a história do Brasil?

A Super Interessante, edição 279, deste mês de junho de 2010, traz um artigo intitulado “A Nova História do Brasil”, assinado por Leandro Narloch (também autor de Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil), em que descreve um Brasil completamente diferente do que aprendemos nas escolas e apresenta ainda 19 mitos – que eu prefiro chamar mentiras absurdas – que professores, frutos de um sistema educacional deficiente, nos fizeram engolir e reproduzir automaticamente sem o mínimo de questionamento ou reflexão sobre os fatos perpetuando essa alienação até os dias de hoje, caso não fossem os novos pesquisadores e historiadores interessados sobre o que realmente aconteceu.

Vá e pergunte a qualquer pessoa nas ruas, por exemplo: Quem descobriu o Brasil? Quem inventou o avião? Que frutas e/ou comidas são típicas do Brasil? – Você, meu caro leitor ou minha cara leitora, saberia responder a essas perguntas também, não é? Claro. Pois, se você respondeu seguramente, sem vacilar, na sequência das perguntas: Pedro Álvares Cabral, Santos Dumont e bananas... Pode tirar seu jegue da chuva.

Só para esclarecer: essa história de que Cabral descobriu o Brasil é conversa fiada. Há registros escritos de que anos antes, outros navegadores portugueses e também espanhóis haviam passado por aqui. Sem falar no fato de que o fidalgo português chegou aqui porque não soube ler o mapa direito – ele estava indo para as Índias. Acho que vi um programa de TV (cujo nome infelizmente não me recordo agora) que falava justamente disso, revelando que lá em Portugal, Cabral não era um homem importante.

No programa Fantástico, havia um quadro sensasional chamado “É Muita História”, com Pedro Bial e Eduardo Bueno, no qual eles revelavam como realmente ocorreram alguns dos fatos mais importantes da nossa história de forma bem humorada. Acredito que em um dos episódios, mostraram que Dom Pedro I, autor do famoso “Grito da Ipiranga” teve um baita de um “piriri” e por isso acabou gritando, fato documentado inclusive por um monge que havia testemunhado o tal grito na época. Por falar nisso, a cena retratada na gravura “O Grito de Independência” pintada por Pedro Américo em 1888, também não foi nada daquilo, típica propaganda política.

Bem, mas retornando aos 19 mitos (mentiras) sobre a história brasileira, vale ressaltar um que sempre me intrigou, mas no fundo sempre soube a resposta certa: Alberto Santos Dumont não inventou droga de avião nenhum, rapaz. Nunca entendi porque sempre insistiram em dizer o contrário, deixando essas informações correndo soltas nos livros didáticos. Nos Estados Unidos, os irmãos Orville e Wilbur Wright já tinham feito um avião voar três anos antes de Santos Dumont subir com seu 14 Bis em Paris (1906) e, quando isso aconteceu, os irmãos já tinham melhoradoo significamente suas máquinas aéreas. A controvérsia reside na forma de lançamento das aeronaves. Também há algo sobre a imagem que temos do escultor mineiro Aleijadinho, os bandeirantes entre outros. De qualquer maneira, o que o artigo tenta mostrar é que os historiadores de hoje estão mais preocupados em descobrir como esses e outros mitos, que na verdade tinham a intenção de criar ícones e heróis nacionais, se originaram. Vale a pena a leitura.

No mais, se quiserem ficar mais por dentro de nossa própria história, sugiro que busquem informações na fonte. Leia sempre o original.

*créditos da imagem: superinteressante.com.br