segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Brasil 2011 - País rico é país sem pobreza

Foi divulgada na última quinta-feira, dia 10, em Brasília, pela presidente Dilma Rousseff, a nova logomarca do governo. Entre as principais mudanças, destaca-se a substituição do antigo slogan "Brasil, um país para todos" do ex-predisente Lula pelo pretensioso, senão risível, "País rico é país sem pobreza".

Quando vi esta logo pela primeira vez, não me contive na cadeira; a frase ficava ricocheteando em minha mente, já abalada por tantos outros absurdos que escuto e leio no dia-a-dia. Como se tivesse apertado um gatilho, logo comecei a analisar o slogan, considerando o conteúdo oculto da mensagem.

O que mais me incomodou foi essa associação entre "país rico" e "pobreza". A incoerência dessa assertiva é gritante. Pense comigo: como se pode conceber a ideia de que um país é rico porque não tem pobreza?

A história da civilização humana nos conta que quanto mais rico um país se torna, mais ele é marcado pela desigualdade e conflitos. Considere, portanto, alguns fatos:

1. As grandes potências econômicas da atualidade - EUA, China, Japão - não acabaram com a pobreza em seus territórios. O fato de um país se tornar rico e independente não siginifica que a pobreza tenha sido extinta. Podem ter diminuído as taxas, mas pobreza sempre houve e sempre haverá em algum grau;

2. O termo "país rico" indubitavelmente não se refere ao povo, mas ao governo - aos governantes e seus protegidos. Do contrário, não haveria, de fato, pobreza ou desigualdade econômica e social, pois no Brasil quem fica rico não é o povo, mas políticos hipócritas responsáveis pela centralização da riqueza;

3. Se, por um lado, para que algo seja considerado rico, é preciso que, por outro, algo seja considerado pobre. Assim como a ideia do que é "certo" só está completa, entendendo-se o que é "errado", podemos dizer que na verdade "ser rico" significa "não ser pobre".

Sendo assim, se uma pessoa é rica, ela o é porque não apresenta sinais de pobreza em relação a si; e, ao mesmo tempo, é rica porque as demais pessoas são pobres. Imaginemos uma nação única. Se todas as pessoas dessa nação fossem ricas, estariam todas numa mesma condição econômica. E, não havendo pobreza nesse lugar, as pessoas não poderiam ser consideradas como tais. Não haveriam ricos ou pobres porque simplemente não haveriam diferenças.

Ainda que seja possível imaginar um país rico governado por políticos altruístas e honestos, que colocam o interesse do povo em primeiro lugar, é pura utopia acreditar e desejar que os outros acreditem também num slogan que reza que país rico é país sem pobreza.

Leia a nossa história. A pobreza sempre existiu. Sempre foi assim e sempre será. É a história quem nos conta isso, a NOSSA história. Mas, caso eu seja o único dentre toda a população brasileira ou mundial que acredita em tal promessa, me façam um favor, caro leitor e cara leitora: me tranquem na Casa Verde com meu bacamarte carregado.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A imagem de 2010

Eu tive um professor de Filosofia na faculdade que dava nós na minha cabeça e na cabeça da turma também. Eram aulas interessantíssimas - pelo menos, para mim - porque eram daquelas em que se questionava todos os conceitos, as ideias formadas e enraízadas, as "verdades" que engolimos no dia-a-dia.

Uma aula que eu jamais esquecerei foi sobre "liberdade". Me lembro que ele havia começado a aula perguntando o que nós entendíamos sobre liberdade e o que significava ser livre. Cada resposta dada com convicção pelos alunos era totalmente desconstruída pelo professor. Ficávamos, "sem-graça", perplexos com suas argumentações e como elas faziam sentido, como ele tinha realmente razão. E foi assim, em uma dessas intrigantes aulas, que ele me fez pensar sobre como era "errado" criticar a cultura do outro, tendo como critérios os valores de nossa própria cultura.

Ele dizia que quando as pessoas fazem julgamentos, críticas a outros modos, costumes, hábitos, rituais etc., elas estão impondo, de certa maneira, a sua visão de mundo por considerarem sua cultura superior às outras. Para ilustrar essa afirmação, pegaremos de exemplo gêneros musicais como o arrocha, o pagode, o funk etc. Esses gêneros são geralmente relacionados com a ideia de "falta de cultura". É muito comum se ouvir dizer que essas músicas "não têm letra". Ora, letra tem. Isso é fato! O problema é que, por causa de uma visão etnocêntrica de uma parcela privilegiada por uma situação sócioeconômica elevada e que, por isso, impõe certos padrões de comportamento, de linguagem, de arte etc., em detrimento de outras formas de manifestação cultural reforçados pelos meios de comunicação, os valores, costumes e as formas de expressão dos que são diferentes desse modelo são vistas como não sendo cultura.

Cada povo tem seus costumes próprios e suas regras próprias, sua forma de entender e explicar o mundo. Para o povo do país X, aquilo que é "certo", pode ser considerado "errado" para o povo Y e vice-versa.

Por outro lado, contrariando este princípio antropológico e tecendo um comentário que pode seguramente ser considerado uma visão etnocentrista, haja visto que o que foi exposto, no mundo do século XXI, ainda marcado por contrastes absurdos, acredito que é inconcebível que a mulher seja tratada de forma cruel, assim como as crianças e os velhos - falar do tratamento dados aos velhos é um outro assunto delicado a discorrer em outra oportunidade!

Sendo assim, a predominância de uma cultura machista velha e desgastada, que coloca o homem como centro de tudo e na qual a figura da mulher não possui representatividade nenhuma é uma situação comum na maioria das sociedades conhecidas, mais e menos desenvolvidas em nossos dias. As mulheres são, por assim dizer, tratadas como lixo, obrigadas, em determinados casos, a se submeter a punições físicas severas por "transgredirem" leis que privilegiam somente os falocratas. São condenadas a abrir mão de sua feminilidade, daquilo que as tornam mulheres: a fonte do seu prazer e sua beleza. Para povo que cultua estes hábitos, é tudo lícito, comum. Para alguns, cuja cultura ainda está aprendendo a respeitar a mulher e descobrir o seu potencial, seu espaço, tais atos são de extremo repúdio.

No ano de 2010, uma foto tirada por uma fotógrafa sul-africana, ao mesmo tempo chocante e bela, foi escolhida dentre mais de 108 mil imagens. Ela mostra o retrato da jovem afegã, Bibi Aisha, 18 anos, cujo nariz e orelhas foram cortadas. Seu crime: não seguir as ordens do marido.

O retrato do belo rosto da jovem contrastando com as marcas da ignorância de uma sociedade machista e violenta estampou a capa da revista Times de agosto de 2010. A foto rendeu à fotógrafa o prêmio World Press Photo desse mesmo ano. Ela foi resgatada por soldados americanos e vive hoje nos EUA*.

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*Foto e informações obtidas no endereço:

Faroeste Caboclo - o filme



Em 1979, Renato Russo compôs a saga da personagem João de Santo Cristo, que "deixa para trás todo o marasmo da fazenda" para tentar a vida na cidade grande. A canção, escrita pelo vocalista da Legião Urbana, com duração de 9 minutos e com 159 versos vai virar filme esse ano!

Estão cotados para os papeis principais:

Fabrício Boliveira (João de Santo Cristo); Ísis Valverde (Maria Lúcia) e Felipe Abib (Jeremias).

Fonte: http://www.faroestecaboclo.com.br/