terça-feira, 27 de agosto de 2013

"NAÇÃO PACÍFICA" por Hamilton Cavalcanti

"NAÇÃO PACÍFICA"
Autoria: Hamilton J. Cavalcanti
 
 
O que você compreende por ser uma "nação pacífica"? Seria uma nação que não possui armas de nenhuma natureza? Seria uma nação pacífica aquela que, embora possua armas, não promove a guerra? OU seria pacífica aquela nação que, além de não fazer guerras, promove a paz?

Cada pessoa é uma nação para mim. Cada uma com suas leis, sua cultura, sua linguagem. Todas as pessoas, assim como as nações, poss...uem suas armas - em pequena ou grande quantidade. Mas ser um sujeito pacífico não significa estar desprovido de armas, significa saber onde está o seu verdadeiro poder e sua autoridade. Nesse caso, me refiro ao poder e a autoridade de sobre si mesmo.

Ser pacífico é saber que, embora se tenha armas para impor a ordem a todo o caos, as suas ações não requerem violência. Pois, as armas sempre existirão: as garras e as presas da grande maioria das feras terrestres e marinhas, os ferrões, os venenos...o punho...a faca...a língua...a palavra.

Ser pacífico, portanto, é escolher não utilizar arma nenhuma. É promover a paz. É recusar o presente dado pelo jovem e impetuoso guerreiro. Mas para promovê-la, é preciso antes conhecê-la. E para conhecer a PAZ, é fundamental que conheça a si mesmo.

Conheça os seus temores, encare-os e dialogue com eles. Busque compreender quem é, de onde vem de fato. Esvazie o copo. Jogue fora tudo o que acha que sabe. Conheça a si mesmo. Perdoe suas falhas. Perdoe-se e aprenderá a perdoar os outros.

Desse exercício contínuo, logo o sujeito aprenderá que quando parar de lutar contra si mesmo, deixará de lutar contra o outro. E quando deixar de lutar contra o outro, por estar aprendendo tanto sobre si mesmo, estará promovendo a PAZ.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Relato de um Manifestante do Movimento Passe Livre Salvador (20/06/13)

Relato de um Manifestante do Movimento Passe Livre
 
Parei de assistir televisão por conta do que mais é mostrado: violência, descaso e corrupção. Claramente observa-se que todos os dias nossos políticos nos roubam descaradamente de diversas formas. Roubam-nos. Tiram de nós o pouco que temos (direito a saúde pública e educação de qualidade, segurança), aumentam nossos impostos e o custo das mercadorias e serviços logo após nos darem aumentos de salário mínimo ridículos. Seus aumentos de sálarios e benefícios? São faraônicos? Todos os dias vê-se na TV. Eu já havia cansado. Imaginei que o povo também estivesse, porém sem memória. O mesmo povo que costuma sorrir para os políticos a cada eleição após uma "gracinha" deles. Mas não é isso que estou vendo nos últimos dias.
 
Ver nossa Salvador se levantando, junto com outras cidades brasileiras, em apoio aos manifestantes de São Paulo e do Rio de Janeiro é algo maravilhoso por falta de palavras mais adequadas. O povo está cansado de ser sacaneado e ficar calado. Como diz-se por aí, "O Gigante Acordou" (adoro essa expressão!).
 
Parei de assistir TV, mas não completamente. Especialmente quando há algo a ser visto. Tenho acompanhado os protestos, as manifestaçãoes, a revolta do povo apresentada pacificamente e violenta. Confesso que de início, fiquei confuso com a súbita eclosão dessa revolta. Procurei ler, ficar de olho em tudo que estivesse sendo dito ou escrito a respeito. Queria formar a minha opinião a respeito. Isso tudo me interessava muito. Mas, não é para expressá-la de forma detalhada aqui que voltei a escrever. Foi para divulgar o relato de um manifestante que foi às ruas de Salvador ontem, 20 de junho de 2013 e testemunhou os acontecimentos que a TVs não descreviam (e nunca descrevem) com exatidão. Havia lacunas. E essas lacunas, acredito eu, foram preenchidas por Fernando Abreu. A seguir o texto na íntegra do próprio Fernando divulgado essa madrugada numa rede social:
 
"Diário de bordo, Manifestação Pública em Salvador, 20 de Junho de 2013. 
[por Fernando Abreu]

 Nada mais que a verdade.

Me chamo Fernando Abreu, não devo nada para ninguém, não pratiquei nenhum ato de vandalismo e nada temo além da retaliação política ou física do Governador da Bahia. Afirmo ser verdade tudo o que relatar.
Não encontrei meus amigos e participei da manifestação sozinho, o que me deu total liberdade de movimentação desde às 14:45 quando fui para o meio da multidão.

Merece cadeia a pessoa que ousar dizer que tinha menos de 80 mil pessoas nas manifestações de hoje, com possibilidade de 120 mil ou mais se contarmos a cidade toda. Um amigo disse ter ouvido na TV cinco mil pessoas, isso não é mentira, é crime falar uma coisa dessa. Tive a oportunidade de ir em jogos de 8, 20, 60 mil pessoas, mais de 15 carnavais na Bahia, comícios e passeatas. Não sou matemático, mas tenho lá o meu conhecimento empírico de multidões.
Quem é de Salvador é só imaginar. Saindo do TCA, passando pelo politeama e chegando até o IML cobrindo também até o semáforo que dá entrada para lapa, tomada de gente igual ao carnaval, só dava para passar pedindo “com licença” a cada meio segundo.

Deu de tudo, pais com crianças de colo, mulheres grávidas com barrigão pintado, galera rasta, gente rica do Corredor da Vitória ( parabéns! ) que teoricamente não precisa participar de manifestação pois são ricos e não passam nem por metade do que o povo sofre, são muito bem-vindos, deu aquela galera de 40+ sem usar referência a partidos mas claramente politizados e sindicalizados, muita gente da periferia, muita mesmo e obviamente os estudantes. E como em toda multidão, torcida de futebol, micareta, etc., apareceram os vândalos/ladrões, destoavam da multidão, não cantavam, não se misturavam, só mantinham o olhar atento, camisa no rosto desde o começo, grupos pequenos de 5 a 7 pessoas e sempre seguindo um mini-líder, mas vou falar deles depois.

Como estava sozinho fiquei a ver a multidão passar, do começo ao fim na esperança de achar o pessoal com quem marquei de ficar. Foi lindo ver tanta gente diferente e todos lutando por um mesmo ideal. Mudar o comportamento e a imagem de apatia latente do povo brasileiro, eu que li todos os cartazes da multidão, (“Eu perdi meu pai para a violência mas não vou perder meu país” o mais emocionante e “Genki Dama no congresso, solução para o Brasil” e “Dilma, fica de 4 pra eu lhe bagaçar toda!” os mais engraçados) farei o resumo de 90% das mensagens:
1º lugar PEC 37, maioria esmagadora.
2º lugar Feliano, muita gente reclamando da homofobia e alguns poucos
3º lugar Corrupção e políticos brasileiros (Renan Calheiros o mais lembrado)
4º lugar Copa do mundo (custo e desvio de verbas) – O que senti, foi o povo reclamando da roubalheira e do que poderia fazer com esse dinheiro, não com a copa em si. Se houvesse mais transparência, e um custo menor o povo ia abraçar essa copa, poucos foram os cartazes falando da seleção (“Cada vez que você assiste a seleção, eles roubam 1 bilhão”)
5º lugar As mais variadas razões, desde o rapaz que estava protestando pela morte do pai, nerds reclamando do novo x-box, mas a maioria reclamando de algo real e justo. Esse pessoal realmente ajudou a engrossar a massa pacífica do movimento.

A marcha usaria o trajeto inicial do carnaval tradicional de Salvador saindo do Teatro Castro Alves e iria passar pela Avenida Sete (tradicional local de manifestações públicas) mas a polícia ilegalmente armou barreiras além do permitido pela Lei da Copa de 2 km em torno do estádio, a lei além de delegar à FIFA poderes que um presidente só tem em tempos de guerra a polícia nem esse espaço respeita. (
http://tinyurl.com/l26598d ).
Ok. Fecharam a principal avenida de Salvador, a avenida que finda no local onde em 89 eu fui apoiar a eleição do cara (The Man, segundo Obama) que indiretamente(?) me fez sentir pela segunda vez na vida medo real de morrer. A avenida que o baiano tem alegria no carnaval e recebe seus visitantes, a avenida que no Sete de Setembro a população civil aplaude a sua polícia no desfile. Perdemos a Avenida Sete, vamos Dique do Tororó (♪ Eu fui ao Tororó, beber água e não achei, encontrei linda morena, que no Tororó deixei.... ♪, então, esse exato dique) que fica ao lado da Nova Fonte Nova.
Fizemos este exato trajeto “
http://tinyurl.com/lsgyfsj
Eu saí do fim da manifestação no TCA e fui em direção à linha de frente, queria ver de perto o comportamento da polícia e já a 800 metros eu vi a primeira correria, alguém jogou um bombinha de São João fraquinha e gritou “corre!” foi bastante. O efeito manada surgiu pela primeira vez. Eu estava longe mas posso penso que não houve motivo real. Em vez de correr, corri para ver de perto o motivo da confusão, ninguém sabia. Na segunda vez eu estava perto e também não entendi, só vi o povo correndo, uma menina caiu e me preocupei mais em ajudá-la a não ser pisoteada do que qualquer outra coisa naquele momento.
Não consigo imaginar outra razão que uma pessoa muito troll ou alguém infiltrado para iniciar a confusão e o efeito manada, talvez a tenha sido algum policial da barreira da AV. Sete mas eu sinceramente não ouvi e nem senti cheiro de bomba. Me direcionei à frente do protesto.
Chegando perto do IML a polícia já estava de prontidão. Nenhuma forma de passar. Direito de ir e vir Zero, a Fifa mandou, mas o meu direito de protestar eu tenho e tava lá pra isso.
Era até bonito, molecadinha cantando “Sem Violência”, “Povo unido jamais será vencido” e esse tipo de coisa esperada. Se alguém falasse que teria um show do Justin Bieber ninguém iria desconfiar. Menininhas de 14 anos com shortinhos de bolso pra fora, adolescentes com os primeiros fios de barba aparecendo, alguns estudantes com uniforme da escola apesar de ser feriado, poucos “punks” clássicos e todos inocentemente protestando pacificamente. Formou-se uma linha entre a polícia e os manifestantes. Atrás continuava vindo gente, muita gente, até então o ar estava limpo, o dia bonito e dava orgulho de ser brasileiro.
A primeira bomba veio do céu, não explodiu, só começou a fumaçar. Quem viu começou a correr. A segunda explodiu, muita fumaça, palavrões e adolescentes chorando, muita gente chorando. Tava tão bonito, tão legal, catarse geral e de repente a gente não respira direito, os olhos começam a lacrimejar e respirar é difícil. Quando a terceira bomba veio, eu já estava meio longe da polícia, a maioria estava e mesmo assim ela veio. O vento levou.
O movimento se dividiu de tal forma que nem Moisés conseguiria fazer de forma tão nítida.
Os ingênuos, os calmos, os incapacitados fisicamente e grande massa passiva para um lado, os violentos, os revoltados sem causa, os criminosos (metade, eu diria), os sem noção e os fisicamente capazes e conscientes do crime que a polícia estava fazendo (Não importa se é por ordem do governador ou presidente, não se atira bombas em adolescentes), indignados com tal ato ficaram na linha de frente. Indignação, razão principal de fazer a burrice de bater de frente com a polícia sendo que estava sozinho e sem ninguém nem pra avisar para notar a minha falta em caso de abuso policial.
Depois da separação dos manifestantes o primeiro grupo atuando perto dos policiais e o segundo chegando mais perto ou não dependendo do avanço ou retrocesso da polícia (cerca de 100 metros um do outro) veio a polícia montada, como ainda havia muitos manifestantes conscientizados houve um tentativa de sentarmos no chão. Nenhum pedra arremessada, nenhum ato de vandalismo havia acontecido ainda.
Eu estava na fila da frente sentado e várias pessoas atrás de mim sentados também, os cavalos vieram, ao olhar para trás vi que estava sozinho com um cavalão olhando para mim, dois passos pra frente e haveria o choque. Me levantei, falei para o policial “Em mim você não bate” e milagrosamente ele não bateu (talvez ajude o fato de ter 1.94 e 130 kilos) um rapaz franzino com um cartaz na mão foi o único a não se levantar, e a polícia também não bateu nele.
Só que os cavaleiros vieram sozinhos, a linha da PM ficou lá atrás. Eu não entendi porque vieram atrás de um monte de gente sentada a 30 metros de onde os PMS estavam mas sei que eles estavam sozinhos.
A primeira pedra quase pega em mim, os cavalos começam a retroceder, foi o que bastou. O efeito manada de novo, só que ao contrário. O povo foi pra cima dos policiais, jogando pedra e começando a confusão de verdade.
Os conscientizados se juntaram ao segundo grupo e só sobraram os vândalos misturados à pessoas, como eu, indignadas de sofrerem violência por quem deveria ser treinada para acabar com ela. Eles começaram, covardemente contra pessoas que um grito mais alto os fariam fugir para as montanhas, depois contra pessoas sentadas. O que veio depois foi apenas consequência. Não havia uma câmera de rede de TV para registrar, um jornalista. Não sei se estava nervoso ou não consegui distinguir na confusão mas eu procurei pois estava sozinho e imprensa seria um meio de defesa contra uma eventual prisão ou agressão.
O vai-e-vem da polícia com os manifestantes durou cerca de 1 hora. Várias pessoas feridas pelos estilhaços de bomba, uma eu tive que carregar no colo para que a segunda bomba que estourou perto dele o machucasse mais ainda pois estava impossibilitado de andar, mais uma vez o meu tamanho serviu para alguma coisa. Neste momento os vândalos ganharam o aval dos manifestantes que sofreram violência para praticar seus atos. Muitos dos que gritavam “sem violência, sem pedras, sem depredação” mudaram de lado e passaram a ajudar os que já vieram com este intuito. A polícia a mando do governador Jacques Wagner, ex-sindicalista e político fruto de manifestações populares, conseguiu transformar perfeitos brasileiros patriotas em vândalos. Somente quem apanha sabe a dor que é a humilhação, a incapacidade de reação ou defesa. Eu não defendo, é burrice vai ser consertado com nosso dinheiro ou pago com nosso dinheiro, além de justificar e mascarar a incompetência da polícia. Até o momento se algum deles ameaçasse fazer alguma arruaça seria facilmente impedido ou linchado pela população, mas a situação mudou.
Era cerca de 18:30 horas da tarde quando o reforço chegou, mais uma bomba caiu (eu contei de 30 a 40 até aquele momento) no meio da multidão e nisso uma pessoa caiu e começaram a chamar por um médico. Uma ambulância abriu espaço na multidão e os manifestantes pararam de se preocupar com a polícia e deram as costas para eles.
No exato momento que a ambulância chegou perto da menina caída no chão cerca de 6 a 8 bombas estouraram de vez, em todas as direções, duas perto da própria menina no chão. Acabou a brincadeira, dessa vez uma estourou perto de mim. Primeiro eu fiquei surdo com o estampido, não tinha como evitar a nuvem de gás que se formou perto de mim, fora as outras nuvens de outras bombas. Comecei a correr e em menos de 2 segundos tive que voltar a andar, mesmo vendo aquele monte de policial correndo atrás da gente pois não conseguia enxergar nada. Parcialmente cego e surdo veio o desespero, não conseguia respirar, a camisa não foi o suficiente. Fiquei seguramente 15 segundos sem respirar e preocupado com as pessoas ou apolícia atrás de mim me atropelar, veio o desespero e o coração começou a acelerar. Várias bombas simultâneas, inalei uma concentrada, parei de fumar a poucos meses, gordo e sedentário, minha visão diminuindo e o coração acelerando, sinceramente achei que talvez fosse a minha hora. Se caísse já era.
Consegui manter a calma, parei de respirar pela boca, a visão começou a voltar e a polícia estava mais longe do que imaginava. Se os vândalos tinham conseguido a permissão, começaram a ganhar o apoio da população “comum” que sofreu a agressão da polícia. Todos os ônibus que estavam no caminho da passeata perto da ação da polícia foram depredados, e foram os poucos que reclamaram, estávamos todos preocupados com nosso bem-estar para se preocupar com aquilo, nem se quiséssemos conseguiríamos impedir.
Estava acabada a manifestação com alguma proximidade do Estádio.

As pessoas começaram a voltar para as proximidades do Teatro Castro Alves. No caminho para o TCA a maior COVARDIA que presenciei, não a maior violência, mas o ato mais vil, sem dúvida.
Com a moral baixa, gás na cabeça e policiais atrás sentando a borracha no pessoal que estava destruindo os ônibus, os manifestantes que não queriam se envolver e nem sofrer com a violência estava rumando ao TCA quando primeiro 2 e depois 3 bombas caíram nas pessoas, do nada. Policiais em
http://tinyurl.com/l2jtmgj atiraram bombas em cerca de 50 pessoas PELAS COSTAS ninguém havia ameaçado ir para a Av. Sete. COVARDIA e MALDADE PURA. O clima de desrespeito e o “hoje pode tudo” a mando do Gov. Jacques Wagner propiciaram que vândalos só que fardados continuassem a aterrorizar a população.

19:30h, cansado, violentado, humilhado e apesar do sentimento de derrota física para a polícia, tenho dentro de mim o sentimento de dever cumprido. Depois do ataque gratuito, e andando sozinho, enfrentar a polícia não é uma decisão inteligente. Tenho viagem de trabalho para o novo emprego dentro de 15 dias e um olho roxo ou uma perna quebrada não iriam ajudar em nada. Decido ir para casa.
No caminho até o ponto de ônibus, uma grata surpresa: A parede do quartel militar no Campo Grande virou de cemitério de cartazes. A coisa mais linda. As pessoas iam embora e deixavam seus cartazes no chão e na parede do quartel, um rapaz ajudava distribuindo fita adesiva. Passo pelo TCA lotado de gente ainda. Até ficaria mais tempo pela vibração da galera mas estava sozinho e decidido a ir embora.
2 km após o último ataque covarde da polícia chego no ponto e pego o ônibus para casa. Não deveria.
Como não havia rotas de evacuação, o curral formado pela polícia ajudou a reagrupar as pessoas em outro local. Parabéns polícia, muito inteligente! Tiveram treinamento com uma prestigiada academia americana de policia (
http://pt.wikipedia.org/wiki/Police_Academy ).
O movimento se reagrupou bem em frente ao ônibus em frente ao meu, apesar de ter poucas pessoas fecharam a rua e não dava para passar. E começou a juntar gente, e a crescer mais e mais. Quando menos notei estava de volta ao asfalto, gritando e chamando mais gente para a rua. A quantidade de pessoas chegou seguramente a 2 mil pessoas. Não era nada comparado ao começo mas era um grupo legítimo. Estávamos em frente ao velho clube Espanhol quando a multidão se formou definitivamente. Em frente ao Hotel Othon, um dos mais luxuosos e caros de Salvador o povo piscava as luzes dos quartos em sinal de apoio ao movimento. Neste momento um estranho me avisa para ficar de olho em um grupo de marginais/ladrões infiltrados na multidão, ele afirmara que havia visto eles depredando e roubando kilometros atrás. Um deles chuta um cesto de lixo e é imediatamente repudiado pelos manifestantes, este leva suas mãos ao seu escroto como que se falasse “Aqui pra vocês”, eu e mais algumas pessoas ameaçamos partir para cima do infeliz e ele sai correndo. Deixamo-lo ir. Mesmo se o pegássemos, não tínhamos a menor vontade de ver um policial na frente. Não hoje, nem fudendo.
A passeata segue pacificamente e nenhum sinal de vandalismo ou depredação. Chegamos ao final de Ondina, famoso ponto de dispersão, inclusive é o principal ponto de dispersão do carnaval baiano. A tendência seria da passeata acabar ali mas o que encontramos?
Exato, a tropa de choque, preparada e com sede de sangue. 5 KM LONGE DA FONTE NOVA !!!! Lei da copa é uma porra, aliás, esqueça qualquer lei. Bahia virou terra de ninguém.

Eu posso ser idiota, mas burro eu não sou. 5 KM longe do estádio, tropa de choque em quantidade suficiente para dispersar a multidão e mais 2 caminhões com policiais também da tropa de choque chegando, eles não estavam ali para conversar muito. A tensão voltou.
Todos os manifestantes se sentaram imediatamente e começaram a gritar “Ei, policia também é oprimido” e o que mais gostei “Não é mole não, na sua greve vai se fuder na mão da população!”. Realmente, eles que não precisem de nós nos próximos 10 anos.
Um garoto, aparentemente um dos líderes da manifestação, se meteu a conversar com um policial, este avisou que não estava ali para conversar, todos deveriam se dispersar. Foi a minha deixa. Se contra 80 mil pessoas entre novos adolescentes e velhos eles não pensaram duas vezes em meter bomba, imagine contra umas 800 pessoas composta majoritariamente de jovens adultos cansados e com a grande imprensa a kilometros de distância.
Meu timing foi perfeito, menos de 2 minutos de sair de perto veio a primeira bomba. De novo uma multidão atrás de mim correndo.
Quem é capaz de adivinhar o que se sucedeu? Exatamente, depredação. Carros, pontos de ônibus, lixo virou barricada e o primeiro ônibus que apareceu teve seu vidro quebrado com pessoas dentro do ônibus.
Parece que foi de propósito, estava tudo indo bem, não havia nada de mais. Ou seja, não era bem essa a intenção deles. O bom protesto, a correta manifestação de jovens não é interesse do governo.
Metros depois e com a polícia centenas de metros atrás de mim um ônibus aparece vazio, começam a depredar, o motorista foge. Já distante observo as pessoas destruindo o ônibus como troféu, ouço mais bombas, mais gente gritando. Já não me interessa mais. Estou perto de casa no Rio Vermelho e só olho de longe.
Depois deste episódio chego à única óbvia de ver a tropa de choque confrontando pessoas no ponto de dispersão a 5 km do estádio jogando bomba em pessoas que estavam sentadas quando eu saí de perto.
Eu não sei como, eu não sei onde, eu não sei quanto. Mas alguém ligado à copa e ao governo vai ganhar muito dinheiro com essa confusão e paz nas manifestações não ajuda em nada. Havia os criminosos de multidão infiltrados, como sempre, mas o Governo da Bahia, hoje, foi fator principal para o vandalismo. Fato.
Ah já ia me esquecendo, ouvi falar que a imprensa chegou providencialmente logo depois as primeiras bombas. Chegaram para filmar a polícia estava restaurando a ordem que ela mesmo havia destruído.

Me dou conta que o texto ficou muito maior que esperava. Tomara que alguém leia. Vale a pena. Tudo verdade.
Dou permissão a qualquer pessoa que se interessar a reproduzir o texto, desde que não o altere. No máximo corrija algum erro de português mas prefiro que publique com seus erros e vícios de linguagem, pois são 3 da manhã, cheguei em casa por volta das 23h, andei mais de 40 km hoje e isso pra um gordinho sedentário com as pernas assadas é muito, muito cansativo. Nem vou revisar, vou mandar do jeito que está.

Obrigado Bahia, Brasil me encheu de orgulho hoje. É tão bom sentir esperança.

Com Feliciano, Renan, Genoíno, Cunha, Pec 37, roubalheira na copa, corrupção endêmica no país, para não entender esse movimento só se for idiota ou corrupto.

Fernando Abreu. Piauiense de nascimento, Paulista de coração e Baiano de criação. Brasileiro acima de tudo."

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

“Knuckle Sandwich”, “Sanduíche de Pernil”? em Cloud Atlas




Assistindo ao filme “A Viagem" (Cloud Atlas, 2013) no cinema ontem, pela segunda vez, fiquei ainda mais intrigado com duas coisas que vi. Não eram exatamente sobre filme. Mais precisamente sobre as LEGENDAS.

Dermont "Duster" Hoggins (Tom Hanks) está irritado com Felix Finch (Alistair Petrie) por causa do artigo criticando negativamente seu livro. Hoggins aproxima-se de Finch, chamando a atenção de todos os convidados no evento, e começa a parabenizá-lo de forma sarcástica. Finch sem se dar por incomodado faz mais críticas ao livro de Hoggins que o deixam ainda mais aborrecido. Ele agarra Finch e o arremessa pelo terraço que se espatifa no chão. Dessa cena em diante, o título do livro é mencionado algumas vezes, “Knuckle Sandwich”. Acontece que, na legenda, aparece o termo “Sanduíche de Pernil” referente ao nome do livro de Hoggins. Isso me deixou intrigado e inquieto mentalmente. “Knuckle Sandwich”, “Sanduíche de Pernil”? Pensei. Ao assistir pela segunda vez, fiquei ainda mais intrigado. Hoje, assistindo a uma versão baixada da internet, com mais calma, minha mente atentou para o fato: mais um caso de péssima tradução.  KNUCKLE SANDWICH não tem nada a ver com SANDUÍCHE DE PERNIL – pelo menos no contexto do filme e com base em minhas pesquisas. “Knuckle” refere-se àquelas articulações no fim dos dedos, as articulações entre os Metacarpos e das Falanges Proximais, ou seja, as partes mais salientes dos dedos de um punho fechado.   
Imagem: The "Word Thoughts" Blog

Logo, levando-se em consideração o temperamento e caracterização de Hoggins e a capa do seu livro, “Knuckle Sandwich”, está muito distante de referir-se a um tipo de sanduíche. O termo “Knuckle Sandwich” refere-se justamente a um soco (as articulações dos dedos, “knuckles”) desferido na boca boca de alguém (“sandwich”... preciso mesmo estabelecer a analogia?). E tem tudo a ver com Hoggins, não concordam?

Portanto, qual seria o título mais adequado para uma versão de "Knuckle Sandwich" em português? "Soco Na Boca"? Seria uma boa sugestão...

Fontes:

domingo, 20 de janeiro de 2013

"VOCÊ APRENDE" de Veronica A. Shoffstall

Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se. E que companhia nem sempre significa segurança. Começa a aprender que beijos não são contratos e que presentes não são promessas.
Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
Aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.
Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo.
E aprende que, não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam… E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobre que se leva anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la…
E que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias.
E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.
E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.
Aprende que não temos de mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam…
Percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa… por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas; pode ser a última vez que as vejamos. Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser.
Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.
Aprende que não importa onde já chegou, mas para onde está indo… mas, se você não sabe para onde está indo, qualquer caminho serve.
Aprende que, ou você controla seus atos, ou eles o controlarão… e que ser flexível não significa ser fraco, ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem, pelo menos, dois lados. Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências. Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se. Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.
Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens…
Poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém…
Algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar.
Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, em vez de esperar que alguém lhe traga flores.
E você aprende que realmente pode suportar… que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida! Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar.



CURIOSIDADES SOBRE O TEXTO
Muita gente pensa que este texto é de autoria de William Shakespeare, como é amplamente divulgado na internet sob diversos títulos, "Você Aprende", "Um Dia Você Aprende" ou "Depois de um Certo Tempo". Mas o texto foi escrito por uma escritora norte-americana, Veronica A. Shoffstall, sob o título de "After A While" (Depois de Um Tempo) e possivelmente baseou-se num poema de William Shakespeare.



Fontes:
http://www.youtube.com/watch?v=_jMV5qU9l6s
http://williamshakespearewilliam.blogspot.com.br/2008/03/o-menestrel-william-shakespeare.html
http://sofinesjoyfulmoments.com/fvthings/aftrwhle.htm


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

No Tell Motel (Não Diga Motel) - filme


Acredito eu que uns dos exemplos mais bizarros de traduções inadequadas de títulos de filmes gringos é este aqui. O título original é "NO TELL MOTEL" e os gênios que geralmente decidem quais serão os nomes dos filmes na versão brazuca, tiveram por mal gosto dar ao filme o nome de NÃO DIGA MOTEL. Nitidamente uma tradução ao pé da letra do título original. Eu sinceramente não sei se isso é preguiça mental ou falta de qualificação do tradutor ou tradutores. NO TELL MOTEL não significa "NÃO DIGA MOTEL" (que seria "DON'T TELL/SAY MOTEL", por exemplo). No título, "NO TELL" é uma característica do motel, por tanto uma locução adjetiva. Um "no tell motel" estaria mais para um motel barato (um hotel para motoristas), tipo espelunca, localizado no meio do nada, geralmente distante das estrada ou numa parte inacabada de uma cidadezinha. 

O termo também se refere a um estabelecimento usado como ponto de encontro para prática de relações sexuais. Assim, o termo "no tell", na função de adjetivo, poderia significar "escondido", "oculto", "secreto", como na canção "No Tell Lover" do Chicago, composta por Peter Cetera: Pretty smile lovely face and a warm breeze now I need you lady / You're my no tell lover / Every night in a different place I'll meet you tender lady / You're my no tell lover.

Logo de cara, você percebe que o título não tem nada a ver com o enredo do filme. Fico indignado quando vejo essa tendência de se traduzir tudo ao pé da letra. Aprender uma língua estrangeira não é só aprender vocabulário e gramática. Aprender uma língua é penetrar na cultura de origem dessa língua para melhor compreender seu uso e funcionamento.

Fontes:
http://www.youtube.com/watch?NR=1&v=lMsvf4109vU
http://www.urbandictionary.com/define.php?term=no-tell%20motel
http://rockosmodernlife.wikia.com/wiki/No_Tell_Motel
http://letras.mus.br/chicago/186744/
http://www.vagalume.com.br/10cc/notell-hotel.html